segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Sem começo e sem fim

(...)
Vivia em terras distantes
longe do mar e das ruas calçadas;
onde banhar-se em água fresca consistia em fechar os olhos. O abismo apoderava-se de sua cegueira tornando seus passos mais vagorosos do que de costume, transformando a sua pressa em uma velha lembrança que usara como tentativa de compor breves alegrias.
Esperava lentamente um novo propósito de chão para alargar a passada, como não era de costume, acalmou-se por alguns instantes ao contemplar a visualização que lhe era sugerida, percebeu sua imensidão em meio ao nada, seguiu contendo o nada nas mãos.
A cada movimento de pés recebia notícias de pedras, plantas e homens.
Do seu cansaço restou apenas a vontade de adorar, seu coração apossou-se. Então o passado, presente e o futuro eram um só tempo.
(...)

Todas as coisas visíveis são apenas setas que apontam para o invisível - Lao Tsé.


Ama graciosa,
Clamo silenciosamente pelo vosso nome
E em cantos de uma belíssima voz sinto a vossa presença;

Deposito minhas esperanças em ti com promessas longínquas, desafiando a eternidade
E assim ornamento o vosso poderio diante dos teus servos desdenhados;

Vós, como tal formosa adormecida ainda envolvida em sonhos, rumas por lugarejos altos e de solos imprecisos, pois nada a ti parece impossível;

Alcançar-vos-ei, pensei
Mas a fusão aquosa de odores não lhes serão necessárias
É pelo guia do precioso e eterno sangue e pela mãe que anima que vais abrandando aquilo que soa como aventuras desastrosas
E tu, senhora sem lágrimas e suores, em sua própria perfeição permaneces, enquanto nós mudamos os ares em busca daqulo que chamamos verdade;

Tantos comentários a seu respeito, tantos fins motivadores, e nenhum deles parecem dignar-vos, vós que nem choras e nem sorris, vives enclausurada na perfeita morada, toma-nos como desassossegados e revela-nos a nossa infidelidade daquilo que chamamos liberdade.

sábado, 19 de novembro de 2011

when I was a child

No post de hoje eu vou tentar recordar os brinquedos, os livros, os filmes e desenhos e músicas mais especiais da minha infância.
Segundo Tia Marilda ( a adulta que mais brincava comigo) eu era a sobrinha que mais fazia perguntas e a que mais gostava de brincar, eu fico feliz em saber disso! Até os 12 anos de idade meus presentes ainda eram bonecas, todos os meus brinquedos tiveram uma participação muito especial, mas aqui só vou postar as coisas mais especiais.

Bem, essa foi a primeira coleção de livros que eu ganhei, acho que tinha 6 anos. Eu tinha que ler todo santo dia (primeiro alguém lia para mim, e depois eu lia sozinha ou colocava o áudio e acompanhava com as ilustrações). Foi muito legal porque chegava pelos correios e eu criava toda uma expectativa. Uma vez vi o entregador com um capuz preto e um chapéu, e fiquei achando que além de entregador ele estava acompanhando a minha trajetória com os livros de algum modo. Ele era mais um personagem, não sei se real (mas naquela época, com aquela cabeça, ele era) então eu ficava triste quando ele passava na minha casa e eu não estava. Era muito bom desembrulhar cada livro e lê-lo no mesmo instante.
As historias também eram boas, a maioria eram contos dos Irmãos Grimm, tinha algumas de Charles Perrault e outras que desconheço as origens. Eu lia todas várias vezes sem exceção, mas tinha preferência por Barba Azul (macabrezas), Os três anõezinhos do bosque, O flautista mágico, O soldadinho de chumbo e Chapeuzinho vermelho. (E ah, quase nunca - ou nunca - aparecia a voz de xuxa nas histórias, acho que só na introdução mesmo). Tiveram outros livros importantes sem ser dessa coleção como por exemplo Pollyana Menina, A princesinha...Dentre outros. Destacarei essa coleção, pois tenho cada detalhe na memória (foi justo na época da alfabetização).


Sobre filmes, assisti bem mais do que li livros, poderia citar vários que gostei, que voltei a ver... Mas sempre tem aqueles ou aquele que a gente assiste umas mil vezes e ninguém aguenta mais, é sobre esses que vou falar! Os dois primeiros dessa fila aí eu quase enlouqueço os outros de tanto pedir para assistir, pois sempre tinha algo novo para ver ou descobrir, eram contos de fadas e por isso o mistério não acaba nunca, fora que eu adorava as imagens! Os dois últimos eu já devia ter de 8 a 9 anos quando assisti, eu gostava mesmo era do conteúdo. O jardim secreto eu não recuso até hoje. Já o pestinha, eu adorava demais (as imagens e as sapequices "levinhas" de junior- o boy era fã do maior marginal! que me inspiravam a ser mais vingativa) mas faz muito tempo que não assisto, porém, lembro de todos os detalhes (afinal, assisti bem umas 30 vezes).

obs: amanhã eu posto o resto!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

James Scalefield



- Soy un hombre herido por el dolor de mi corazón de melón/Oh niña de las flores!/No sé lo que quiero decir/Yo soy un mentiroso!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

говоря Россия

Ontem fui ao supermercado. Estava desconfiada por observar. Mal podia olhar para os lados, e ao olhar sentia que qualquer situação onde eu pudesse ser observada ou encontrada também poderia arrebatar-me. Não sei a razão, mas sair do caixa para pegar o polenghinho a uns 2 metros de distância na prateleira custou-me.
Depois do percurso voltei as costas para a prateleira com a fronte situada para o caminho de volta e, simplesmente, sem nenhuma explicação, o supermercado não era mais o mesmo e o caixa era um grande balcão de madeira. No começo dele havia um orifício onde o cliente colocava suas compras já ensacoladas  e lá dentro da madeira havia uma balança e uma esteira manual encarregada de entregar as compras a um velho homem que calculava cada centavo em seu caixa antigo e rodava uma espécie de manivela para que as compras chegassem até ele. Tudo me parecia muito novo.
O velhinho estava dormindo no caixa, eu mal podia vê-lo, mas dava para observar sua cabeça grisalha escorada sobre a tábua. “Não quero acordá-lo”, pensei.  Até que um homem qualquer que circulava por ali falou que era para eu colocar as compras no buraco e o velho automaticamente acordaria, dito e feito.
Lá se foram minhas compras e meu destino terminava por ali. Porém, muito antes disso acontecer, eu passeava de mãos dadas entre as prateleiras com alguém pronto a querer ficar comigo, seguia com um óculos de sol que cobria boa parte do meu rosto, mas lá pela sessão de jardinagem percebi que não queria mais nada daquilo e as promessas  dissolveram-se, ainda bem que em um supermercado e não diante de um altar. Então jurei : “Pode ir”. Não era mais o silêncio da dúvida e nem da dor, era um nevoeiro que me protegia ao circular onde quer que eu fosse, e caso essa promessa fosse desfeita eu estaria entregue às baratas. O nevoeiro revelou-se o meu escudo.  E eu tinha muita certeza de tudo aquilo.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Durante o caminho para casa, por algum motivo, tive que parar em um açougue sombrio. Faltava luz, a parede era suja e possuía buracos onde dava para avistar o terreno baldio ao lado. O açougueiro gordo com as facas enormes colocou um grande frango em uma chapa por 5 minutos e pronto, já estava no ponto para comer.

Eu estranho aquilo tudo, e vejo enormes pedaços crus serem engolidos. Até que o absurdo toca mais alto, e sai um bebê recém nascido daquela pocilga para comer o seu pedaço de frango cru também. Eu que só observava e contracenava com caras e bocas, pude, nesse momento, fazer uma breve intervenção e não me aguentei ao dizer: “Ei, mas esse frango está cru... e, além do mais, é enorme! Essa criança pode não suportar!”. Eis que era verdade, pois a pequena nem dentes tinha. Mas, ufa, o açougueiro avaliou a situação e recomendou que a levassem de volta para o quarto, finalmente eu tinha razão.

Fui acompanhar levarem o bebê de volta, entro em um quarto bem mais limpo, silencioso, agradável... Vejo o bebê ser ninado e não entendo como ele pôde resistir com tanta ternura a um mentor daquela espécie... Mas, a conversa com a cuidadora do bebê não me levava a lugar algum, ela estava muito concentrada com o trabalho, e finalmente chego a algum lugar: a rua.
Acabei lembrando que tinha que passar na residência de alguém, não sei nem para quê... Eu apenas queria ver alguém, mas ao chegar o dono da casa estava tão entretido com ele mesmo que não lembro de receber nem um “oi”,tudo bem, fui observar o ambiente e me deparei com um corredor cheeeeeio de álbuns de figurinhas. Aquilo era meu sonho, ou era um sonho mesmo ou eu estava realizando. Mas calma, os álbuns não eram meus! Meus olhos não desgrudavam daquilo, estavam lá meus personagens preferidos (levando em consideração que esses personagens me afeiçoaram na infância pela própria estética, eram como bonecos parados que não precisavam dizer nada, pois a expressão já era tudo!). Eu olhava, com um olhar de sete anos de idade, e queria vários daqueles álbuns e figurinhas para eu passar o resto dos dias olhando, mas não eram meus, snif, snif. O proprietário me fez a doação de um álbum promocional, cujas folhas eram daquelas bem pebas recicladas e o personagem era o que menos chamava minha atenção, hunf, amufinei! Lembrei no mesmo momento do sentimento de deixar as crianças em lojas de brinquedos saírem de mãos vazias, ou então com a peça que elas menos gostariam de ter, isso é tão insatisfatório!
Pois bem, fiquei com uma vontade imensa de sugerir que ele me desse outro álbum, mas ele não tava muito interessado nisso, nem mesmo em saber das minhas preferências ou nem se quer pôde perceber o meu deslumbre diante daquilo que era meu sonho.

“Frustação!!!” era só o que eu conseguia pensar... E o camarada lá, passeando de trás para frente e de frente para trás entre as suas centenas de álbuns até repetidos, que crime!

Acabei desistindo de assistir aquilo tudo, mas o grito do desespero não cessou tão fácil dentro de mim, fiquei pela casa, fui falar com os pais do rapaz que tentaram ser mais gentis do que ele, acabei me afeiçoando e isso rendou horas a mais naquele lugar. O pai do garoto falava diante do espelho, mas só vez ou outra ele soltava palavras mágicas que davam abertura para eu perguntar alguma coisa, e ele com os olhos fixos no objeto que refletia a própria imagem, me respondia tudo bem direitinho, mas bastava desviar o olhar que nem mesmo os seus ouvidos funcionavam mais nem para a direita e nem para a esquerda, com um amufinamento instantâneo. No entanto, se tratava de uma figura amável, passei a gostar dele, mesmo quando de grande mago passava a ser pequeno robô.
E o camarada ainda lá, olhando seus álbuns, e às vezes fazendo outras coisas que não cabia mais ninguém. Tudo bem, eu tinha um mundo todo para explorar, seu boboca.
Explorei o quintal, os quartos, a sala, os banheiros... Tudo e todos os objetos. Mas, cansei, e quando vi, haviam outras pessoas cansadas na fila do banheiro, ou era apenas minha vista que via tudo morgado mesmo.
Eu já estava cansada com a cabeça escorada na parede, sem nem conseguir pensar no próximo passo, a não ser nas minhas necessidades fisiológicas e puf, encontro dois amigos divertidos na mesma fila que eu.
Ah, eles foram tão gentis, amáveis, sei lá, eles falaram comigo olhando para mim, que grande feito! Isso foi tão importante que eu pude me sentir eu de novo, eles lembravam mais de mim do que eu mesma. Falaram das minhas coisas de quando a gente brincava na rua, de como aquele tempo foi bom, etc etc. Eu lembrei de mim, uepa.
Até a vontade de ir ao banheiro passou, a vontade de possuir o álbum de figurinhas também, eu não lembrei nem mais deles, só lembrei depois quando já estava com o pé na estrada novamente e me dei conta que já era.

Pé na estrada, sei lá para onde eu tava indo, mas eu sentia muita certeza de tudo aquilo... Talvez, apenas de volta para casa!

Ah, desculpe qualquer erro, qualquer coisa, escrevi esse texto numa teclada só, até! ;)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

ouro de besouro


Sentado numa poltrona de ouro ornamentada em tesouro
Basta-me o silêncio para que o meu fiel escudeiro atentamente ouse tentar persuadir-me de que o engano apoderou-se do meu reino, só porque antes em pó e lata um dia fora feio
Uma honra à dor, à antiga tábua de lata que guardava todos os pedaços juntos e milhões de anos-almas depois pôde se transfigurar em diamante
- Custa, escudeiro, respeitar o meu tempo, a minha transfiguração e agora felizmente o meu silêncio?

O reino manda avisar aos súditos que às 17:49 horas do dia 7/07/2011 (multiplicado por 2, e seguindo a ordem por dois anos) abrir a boca de forma desproporcional ao código de conduta 264 (que diz: respeite seu próximo mesmo que você ou seu parente de estimação tenham a incerteza de que seu próximo não é mais digno de viver no mesmo reino que vocês ou possui mais tesouros) será causa de pena de morte e, por tanto, façam um minuto de silêncio pelas vidas dos companheiros pois todos eles são muito amados pelo rei.

Att. a guarda.

Shhhhut up!